amizade e amor, sentido e entendimentoA. Porém, procuro o que conhecer, não o que crer. Mas tudo o que sabemos, dizemos, talvez corretamente, também que cremos; entretanto, nem tudo o que cremos sabemos.
R. Portanto, neste assunto rejeitas todo o testemunho dos sentidos?
A. Rejeito-o totalmente.
R. No que diz respeito àquele teu amigo, a quem, como disseste, ainda não o conheces totalmente, queres conhece-lo com o sentido ou com o entendimento?
A. O que conhece dele pelo sentido – se é que pelos sentidos se conhece alguma coisa – é de pouco valor
e é o bastante. Porém, quanto àquela parte pela qual ele é meu amigo, isto é, a alma, desejo atingi-la pelo entendimento.R. Pode-se conhecer de outra maneira?
A. De modo algum.
(Agostinho dialoga consigo mesmo, sua Razão faz papel de instrutor e ele de discípulo)
Solilóquios; A Vida Feliz
Santo Agostinho. São Paulo, Paulus, 1998 – (Patrística; 11). pp 23-24
num trecho do que melhor li sobre Tolentino, encontrei um testemunho de amor ao ser humano e sobre o se relacionar. aqui, no entanto, está a declaração de amor ao seu grande mestre.
Dez anos com Bruno Tolentino, por Pedro Sette Câmara
“Com sua humildade, Bruno Tolentino abriu-me os ouvidos. Parece vergonhoso hoje dizer que alguém foi um exemplo; pois eu digo que um dos elementos mais importantes da minha formação (inacabada, naturalmente) foi o esforço consciente que fiz para ter os ouvidos dele. Sempre soube que não poderia nem deveria tentar escrever seus poemas — já existia um Tolentino. Mas ouvir o que ele ouvia, gostar do que ele gostava, isto era a consummation devoutly to be wished, algo sumamente desejável, e foi difícil.
Sempre quis ouvir suas explicações, como sempre quis ouvir explicações, mas na maior parte das vezes não tanto para entender um assunto em abstrato, mas para saber como é que ele chegou a pensar ou sentir aquilo, como se eu procurasse não exatamente as doutrinas ou os milagres, mas os testemunhos. Entre estes não há apenas discursos diretos, narrativas de experiências, mas toda uma atitude que se quer apreender. Não se tratava só de ouvir aquilo que Bruno Tolentino ouvia naqueles poemas para que os achasse bons, mas de aprender a ouvir como ele ouvia, para poder usar seus ouvidos na sua ausência e conseguir imaginar: “O Bruno diria que…” Não que eu pense que seja possível com isso apreendê-lo completamente, criar um verdadeiro Bruno Tolentino interior que se possa ligar e desligar. Mas não conheço outra maneira de desenvolver a própria sensibilidade que não passe pelo empréstimo de sensibilidades alheias.
Se alguém de quem você gosta pede que você experimente uma comida, você experimenta. Se alguém que você admira admira alguma obra, você quer aprender a admirá-la. A fé e o amor são o suporte psicológico do conhecimento entendido como um ato do sujeito, o ato de conhecer, não o empilhamento de palavras em linguagem padronizada.”Bruno Tolentino + , 12.11.1940 – 27.06.2007 não tive a honra de conhecer bruno tolentino senão pelas palavras dos amigos e muitos que acompanharam sua obra. quando soube quão doente e próximo de onde estava, desejei visitá-lo, mas ficou apenas o desejo – a estranheza do “quem sou eu?” e o respeito ao seu momento me mantiveram em meu lugar.
nunca li um livro (apenas folheado páginas), assisti a uma aula, a uma palestra, então por que tal desejo? pela grandiosidade de quem foi.
humano, como somos, mas raro, pelos valores, pela incessante busca pela sabedoria e crescimento como pessoa, levando consigo todos que ao seu lado desejassem aprender. voltou para sua terra, nosso país, e por uma educação melhor, viveu uma luta perdida e solitária, pois atinge o mínimo, e lentamente. mas nela esteve até o fim.
estive no velório em são paulo, ele estava em paz e estar ali muito me emocionou. apresentei-me a ele, conversamos um bocado. daqui, beijei-o em despedida.